Pelas memórias que me trouxe, de um outro mês de Junho numa Angola de outra época, não resisti a transcrever do livro "Cacimbo" este pequeno excerto que o Jotta Leitão me enviou em que a música era, infelizmente, outra:
"Fim da emboscada
Na Picada de Omar a cotação da vida era alta. Nem toda a gente tinha direito a ela.
Agora a emboscada terminou, o perigo afastou-se. O tempo suficiente para fingirmos que o medo se afastou também.
Os soldados alojados nas crateras das duas minas anticarro olham para mim enquanto tiro a foto de cima do rebenta-minas.
O furriel Ribeiro olha pela picada fora apreensivo. Abraça a G3 e olha o caminho ainda por desbravar, calculando talvez a cotação da sua vida até chegar ao objetivo.
O soldado Lourenço está triste. Olha o chão segurando o detetor de minas como um objeto inútil. Como se soubesse que nada poderá fazer para evitar a morte. Nada.
Mas agora não há perigo, Lourenço. Só vais morrer amanhã.
in "Cacimbo"
Depois de ler estes textos que me enviam e do livro do meu padrinho («A última missão»), continuo sem conseguir imaginar o que é passar por isto.
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