Publicada pela primeira vez em 1751 numa edição anónima, “A Arte da Flatulência” teve tanto sucesso que o autor - Pierre-Thomas-Nicolas Hurtau - a reeditou várias vezes até à sua morte em 1791. Com o tempo, a dissertação tornou-se um clássico da literatura cómica, escatológica e pseudo-científica, existindo actualmente incontáveis edições e traduções da obra no mundo inteiro.
O que cheira verdadeiramente mal, diz ele, é o preconceito. E a incapacidade de rirmos de nós próprios, das nossas debilidades. Ou seja, o que a flatulência tem de dramático é vir lembrar-nos de que somos imperfeitos e mortais. Que algo está podre dentro de nós, mesmo antes de morrermos. E, contra isso, só há um remédio: rir, mas rir com arte.
Este falso cientista, mas verdadeiro filósofo, leva a paródia às sua últimas consequências, pois, no fundo, quer relembrar-nos que, por baixo das rendas e dos perfumes, temos vísceras, como qualquer outro animal, e não devemos envergonhar-nos do que somos, antes vivê-lo com bom humor. Tanto mais que, como afirma, a flatulência é uma necessidade da natureza, uma condição de boa saúde, que pode e deve ser assumido como fonte de prazer. E até de arte, pois “dar flatulências” não custa, custa é saber dá-las.
Não, “A Arte da Flatulência” não se limita a ser uma obra satírica. Tem uma dimensão sociológica a que só serão sensíveis os narizes mais finos e os ouvidos mais sagazes. Essa é uma das razões por que o livro não perdeu actualidade. A outra é o facto inegável de a flatulência permanecer hoje uma manifestação desconhecida da generalidade das pessoas como o era no séc XVIII. Por isso, não venham dizer que a matéria do texto é de mau gosto.
De resto, este poeta dos gases, este sábio da flatulência, deixa expresso o mais louco dos desejos: o de assistir um dia a um concerto de flatulências, concebido por um compositor capaz de transformar em música os sons mais viscerais. Em suma, decerto já o perceberam: a matéria do livro é, sem tirar nem pôr, um dos vários capítulos da mais difícil e exigente das artes: a Arte de Viver.
Post Sriptum:
Respeitando a sensibilidade dos meus queridos amigos e amigas, optei por não usar a linguagem escatológica da tradução portuguesa, sem que, no essencial, tenha havido alteração do sentido do texto. Em todo o caso, aceita-se a crítica de que o termo utilizado – flatulência - seja pouco preciso quanto ao ponto de saída da dita. Assim e para os que se preocupam com a qualidade da tradução, com a preservação e – por que não dizê-lo? – com a valorização de uma certa linguagem popular, creio que não será difícil repor a pureza das palavras originais, bastando, para tanto, substituir “flatulência” por “peido”. Ipsis Verbis.
(A Arte de dar Peidos - Ensaio teórico-físico e metódico de 1751, de Pierre-Thomas-Nicolas Hurtaut. Editora Orfeu Negro, Novembro de 2010. Texto adaptado)
*Texto recebido pela net, onde também pesquisei fotos.
Tuna Tepeidascomòrrafa!
ResponderEliminarE Tuna Flatulascomócarvalho!!!
ResponderEliminarMas Tuna Começastamarchadesalamanca!
ResponderEliminarOu seja em versão moderna: a arte de Salamancar!
ResponderEliminarPara quem não se quer modernizar a 100%
pode conjugar o verbo a meias:
eu salamanco
tu peidas
ele salamanca
nós peidamos
vós peidais
eles salamancam
Claro com ou sem cheiro!
Falou o grande Mestre!
ResponderEliminarEstranhos amores...
ResponderEliminarPaixões!
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