terça-feira, setembro 01, 2009

Dr. Rui Pato


Confesso que não tinha ideia de quem era o Dr. Rui Pato até tocar com ele no Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos e nos ensaios que o precederam. O que me apercebi logo no primeiro ensaio foi que estava perante um músico excepcional. Como o Rafael me disse que o Dr. Rui Pato é o Presidente do CA do Centro Hospitalar de Coimbra, assumi que seria um músico amador. Por conversas posteriores com o Rafaelito, soube que o José (Zeca) Afonso, nos anos 60, foi acompanhado em muitas ocasiões à viola (ao vivo e em gravações) por um tal de Rui Pato.
Pois...
Comecei a pesquisar sobre a ligação entre o José Afonso e o Rui Pato e a conclusão a que chego é que tive a oportunidade de tocar com aquele que foi o braço direito... e esquerdo... e os dez dedos das mãos... do José Afonso.

"Quando o Zeca, já depois da sua passagem em Coimbra, como estudante e cantor do fado tradicional, já professor, regressa a Coimbra para mostrar aos amigos um modelo novo de canções, vai ter à Brasileira. Mas para se ouvirem as coisas novas era necessário um acompanhante à viola. Como eu tocava viola e o meu pai o lembrou, foram todos para minha casa para o Zeca mostrar as suas primeiras canções. E foi então que eu ouvi pela primeira vez as coisas novas do Zeca, que fui acompanhando à viola de uma maneira de que ele gostou. E pronto, nasceu ali a ideia de passar a acompanhar o Zeca Afonso, o que aconteceu logo até num primeiro disco, que também foi sugerido na altura.
(...) As canções que o Zeca cantou foram algumas das que depois se transformaram em símbolos, como “Os vampiros”, “O meu menino é de oiro”, “Tenho barcos, tenho remos”, aquelas primeiras coisas que ele gravou, que eu acompanhei, e que depois se transformaram em grandes sucessos. Seguiram-se um segundo disco e um terceiro. Comecei depois a acompanhar o Zeca em espectáculos um pouco por todo o país, o que aconteceu entre 1963 e 1969, na altura da crise académica. Ainda antes, por altura de 1965, comecei também a acompanhar o Adriano [Correia de Oliveira], o que voltou a acontecer com o António Portugal, o Pinho Brojo, o António Bernardino, numa actividade quase febril.
(...) Chegámos a 1969 e como eu era dirigente académico fui castigado, foi-me retirada a possibilidade de ir para o estrangeiro e, por isso, não pude acompanhar o Zeca que começou a gravar lá fora em condições completamente diferentes daquelas que tinha em Portugal. Mas continuei a acompanhar o Adriano em 1969, em 70, ainda gravei com ele “O canto e as armas”, com poemas de Manuel Alegre. Em 70, 71, 72 ainda acompanhei o Adriano, ainda fiz várias coisas com o António Portugal, com o Brojo. Depois disso, quando me formei em Medicina, em 1972, dediquei-me ao exercício da profissão e só muito raramente fazia música, o que voltou a acontecer com o Adriano numa Festa do Avante e, depois, a pedido do Zeca, no seu último concerto no Coliseu, onde eu o acompanhei em três temas dos seus mais antigos.
(...) um ano ou dois depois de eu acompanhar o Zeca. Só então percebi a importância do canto do Zeca e da minha própria contribuição para ele. Porque o que aconteceu foi mostrar um novo modelo de acompanhamento, um instrumento muito discreto que serve quase só para sublinhar o poema"

Entrevista de Rui Pato no Diário as Beiras de 3 de Agosto de 2009

Que pinta!
E eu, que sou um borra-botas de trás da serra da Estrela, tive logo que dar uma fífia quando actuávamos para aquela malta toda do bairro Norton de Matos.

Curiosidades sobre José Afonso - Rascunhos
Recomendação da AnAndrade... e agora minha: blog 80 anos de zeca

19 comentários:

  1. Esta eu já sabia, mas não te esqueças que as minhas andanças politiqueiras deram para este tipo de conhecimentos (e outros).
    A propósito do Zeca, já conheces isto?
    http://80anosdezeca.blogspot.com/

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  2. Sempre oportuno!
    Gostei!
    Essa de borra-botas de trás da Serra da Estrela...por onde se chega indo "por...Caria" acima...é modéstia...

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  3. aifpa, já me disseste quem és mas esqueci-me...
    A página que indicas é excelente. Vou ter que me "afundar" por lá.

    Rafaelito, borra-botas ainda foi a expressão mais suave que encontrei.

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  4. Amigo Paulo Moura:
    Estou -lhe muito grato pelo elogio que me faz, muito grande, por ter levedado com o fermento da vossa amizade...
    Pode crer, que foi um enorme prazer ter convivido consigo e com os outros naquela "charamela" do bairro.
    Ainda havemos de nos voltar a cruzar entre as mínimas e as semibreves desta vida!
    Rui

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  5. celestelinda2/9/09 17:27

    Paulito
    Tens de concordar que eu só te quero em boas companhias!

    Realmente os ensaios da "charamela do Bairro" foram ,para mim,momentos inolvidáveis.

    O meu bem-haja a todos os participantes.

    Sempre ao vosso dispor.

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  6. Rafaelito, tu és uma língua de trapos! Tu bem sabes que o Paulo Moura é muito envergonhadito...

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  7. Mas ó São Rosas, tu não me largas nem um bocadinho?!
    Dr. Rui Pato, concerteza, que o mundo é muito pequeno e o bairro Norton de Matos é especialmente aconchegante.
    Celestita, tu é que mereces muitos bem hajas (ok, ok, mais um ou outro bem haja para o Rafaelitolindodonossocoração).

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  8. "Charamela do Bairro" é lindo!
    De acordo com a Wikipédia "A charamela é um instrumento musical de sopro"
    Sopro vamos tendo...palheta, vamos dando...Daí até que nem ficava mal a TunaMeliches virar "Charamela do Bairro" (pelo menos até ao Encontro de gerações do RAFA).

    "Charamela do Bairro"!..Até gosto. Claro que em jejum a língua não se entaramela...

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  9. "Charamela do bairro"...
    Tens razão, é fixe!

    charamela
    nome feminino
    1. antigo instrumento musical de palheta coberta; espécie de gaita; flauta rústica
    2. charanga

    charanga
    nome feminino
    banda de música composta somente de instrumentos de sopro e, por vezes, timbales; charamela

    A língua portuguesa é uma coisa mai'linda!
    Como vês, somos uma charamela, desde que nos soprem e t'imbalem!
    Arrematado!

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  10. E com a palheta coberta...até o RAFA charamela...

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  11. E melhor ainda se for com o palheto aberto!

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  12. Vejam bem como o tema foi desenvolvido...Encontro de Gerações...rota cabrito de sicó...
    penela...ensaios...dr. Rui Pato...Zeca Afonso...PM...charamela e acaba num palheta aberto!

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  13. Acaba o tanas! Agora é que isto começa...

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  14. Desculpem lá eu ter usado um termo que semanticamente poderá estar incorrect. Eu aprendi o nome "charamela" na Universidade, pois é esse o nome dado aquele grupo musical que só toca na Via Latina da Universidade e que se organiza à pressa quando há Doutoramentos. Fez-me lembrar o nosso grupo que só se organiza nas vésperas de uma ROTA...

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  15. Está correctíssimo, o termo. Charamela pode ter o significado de charanga, que por sua vez é uma banda de música composta somente de instrumentos de sopro e, por vezes, timbales.
    E também tem toda a razão: o Rafael só ensaia quando A_ROTA.

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  16. ....a postas de Cabrito de Sicó, ao som da Charamela da Tuna Meliches...

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  17. Charamela do Bairro, pá!
    Ainda não divulgámos o nome e já parece a Tuna Meliches, que uns escrevem Tunameliches, outros Tuna Melixes e outros ainda (a maioria) não escrevem!

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  18. aifpa = AnAndrade.
    (não sei por que raio assinei daquela forma...)

    A-funda-te, então... :)

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  19. Ah! És tu!
    Já me afundei. É excelente! Vou acompanhar aquela página.

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Tuna Tecales!