quarta-feira, janeiro 10, 2007

As janeiras - Jorge Castro (o magnífico Dom OrCa)

"Já as cantei, em pequenote, por terras transmontanas, na mira de gulodices raras ao tempo e pelo gozo de combater o frio da geada, entoando, em alta gritaria, cantorias em louvor dos vizinhos. Hoje, dizem-mas oriundas das Saturnais romanas, ou evocatórias do deus Jano, o porteiro do céu, deus dos começos, dos inícios e das entradas, sendo invocado para afastar espíritos funestos no início de cada ano... Em calhando, ainda vêm mais de trás, de festejos pagãos do solstício, para bons augúrios do novo ano, com boas colheitas e poucas ou nenhumas contrariedades.

Não vá o diabo tecê-las e porque nunca cheguei a crescer muito, cá vos deixo o meu canto, para esconjurar os maus espíritos que por aí nos assolam...

Janeiras (imagem do blog Oficina das Ideias)

Mote
‘inda agora aqui cheguei
pus o pé nesta escada
logo o meu coração disse
que aqui mora gente honrada


Glosa
‘inda agora aqui cheguei
fora da hora aprazada
era de noite e julguei
ser melhor p’rà caminhada

fugi do frio da noite
pus o pé nesta escada
que não há já quem se afoite
no negrume da geada

nem foi coisa que se visse
ou de monta a empreitada
logo o meu coração disse
que o passo se faz estrada

bati à porta e entrei
vida e alma iniciada
quero crer no que não sei
que aqui mora gente honrada

que aqui mora gente honrada
a vida mo há-de mostrar
que não se toma por dada
a verdade por achar

porque me fiz ao caminho
logo o meu coração disse
faz-se de penas o ninho
ao mais alto que subisse

a subir foi a jornada
de trabalhos feito o dia
pus o pé nesta escada
nos degraus da invernia

mas tudo valeu a pena
por viver o que sonhei
não tive a alma pequena
‘inda agora aqui cheguei.

(Desenvolvimento em quadras sobre mote popular)
- Jorge Castro"

Original amavelmente surrupiado ao blog Sete Mares, do nosso amigo Dom OrCa

8 comentários:

  1. E quando eu cantei este "mote" na penitenciária de Coimbra!
    A gargalhada foi geral!!!!!
    Gostei meu caro Orca, um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Rafael, tens toda a razão. Esse foi um momento histótico. Conta isso num post, que merece ser relembrado.

    ResponderEliminar
  3. Eh, pá, saber ca Tuna me canta é sempre um encanto!

    E dava qualquer coisinha para ter assistido a essa cena na penitenciária... :-)

    ResponderEliminar
  4. Davas mesmo qualquer coisinha?!...

    Se o Nelo sabe...

    ResponderEliminar
  5. ...Mas S. José estava atento!

    S.José se alavantou
    Uma vela se acendeu
    P´radorar o Deus menino
    Que há meia noite nasceu!

    ResponderEliminar
  6. Eu gostava era quando se chegava àquela parte do «levante-se daí minha senhora...» com os machos todos da tocata a levantar o braço com o punho fechado...

    ResponderEliminar
  7. Ligeiramente...Levantava-se o braço (era mesmo o braço!!) com o punho fechado(era mesmo o punho??),ligeiramente,ligeiramente...

    ResponderEliminar
  8. Pois, pois... eu sou uma exagerada...

    ResponderEliminar

Tuna Tecales!