quinta-feira, fevereiro 18, 2010
Uma Carta sempre aberta, Miss!
Se há temas em que a tuna-se-licha com prazer, o da Poesia, nas suas diversas formas ( eu sei.eu sei...Poesia mais de arte_são, não é? Eu sei...) tem merecido todo o nosso carinho. E sempre que se pode (repito "pode") tem estado presente nas nossas musicalidades.
Daí que a descoberta(salvo seja)de Poesia vá ocorrendo, quase por acaso ("aldra"! Foi no blog florido). Miss Shag Well é uma dessas detentoras desse dom!
Agora, pôr-se a escrever uma Carta, sem a fechar...tss,tss...a Charamela tinha, com muito prazer, de a "selar"!
Ei_zia:-
"Prostituição:carta aberta.Pelos emails que me enviam a pedir conselho.Pela responsabilidade de desmanchar ilusões
Riscos? Todos. Tudo em nós fica em risco. A vida. A saúde física. O equilíbrio mental. Tudo. Uma pequena parte do que nos acontece depende da cautela; a grande parte depende da sorte. E não se pode confiar na sorte. E não se pode confiar em quase ninguém. Porque as pessoas que tiveram poucas ou nenhumas oportunidades na vida costumam ficar com as garras mais saídas. E as garras estão preparadas para arranhar. E muitas já só sabem sobreviver a arranhões. E muitas arranham-te porque acham que és uma ameaça ou porque isso lhes traz ganhos e outras arranham-te só porque sim. E vais estar num sitio onde ninguém sabe o nome de ninguém, ninguém sabe a morada de ninguém, ninguém sabe quem é quem. E podes bater na porta errada ou na porta muito errada. E podes abrir a porta à pessoa errada ou à pessoa muito errada. Num dia podes ter uma arma na cabeça, noutro podes ter uma faca no pescoço ou até uma doença grave. Ou podes simplesmente sentir-te mal, apenas porque viver assim te faz sentir mal ou porque alguém te fez sentires-te mal. A dignidade pode transformar-se em areia que escorrega entre dedos e os sonhos podem começar a cheirar a naftalina.
Dificuldades? Todas. Tudo é difícil. Começar. Sair daqui.Ter clientes. Não ter clientes. Perceber que a realidade luxuosa que se imagina não existe para a maioria ou que não se chega lá pelo menos sem começar mais baixo. E mais baixo pode ser ganhar trinta ou quarenta euros (ou menos) por cada pessoa que nos despe. E perceber que mesmo que se aceite isso, pode ganhar-se pouco, muito pouco. Sim, eu sei que ali digo que são duzentos ou duzentos e cinquenta euros. E é a responsabilidade de dizer isso que me faz confessar que já foram 25 euros. E que não consegui melhorar as condições por ser muito bonita - não sou - ou por ser muito inteligente. Sorte, foi pura sorte. E a sorte maior que tenho, depois de tudo, é a de estar viva - por sorte, sim.
Dicas? Tem mesmo que ser? Tens mesmo que...? Tentaste os caminhos todos? É que se vais arriscar vida, saúde física e mental, um dia podes ter que explicar a ti mesma(o) porque te fizeste tanto mal. E como vou eu dar dicas a quem pretende iniciar-se, se eu mesma não vejo a hora de sair e só agora tive um vislumbre da porta de saída? Ninguém nos força, ninguém nos obriga, ninguém nos retém aqui mas parecemos presas em teias e ficamos, quase sempre, muito mais tempo do que prevíamos. Acreditem. Ao entrar corre-se sempre o risco de ficar aqui como se fosse a única vida que se conheceu até agora; há quem fique até depois da fase em que se torna ridículo pela idade. Cuidado com o mundo, cuidado com as ilusões, ambição não é ganância, cuidado com a falta de segurança, arriscar o mínimo e rejeitar tudo o que não permitir manter a dignidade.
Não gosto de escrever acerca da minha actividade como prostituta, nem mesmo acerca da prostituição no geral. É a responsabilidade que sinto que me faz fazer isto. Porque recebo vários e-mails de homens e mulheres a pedir conselho. Porque os valores que pratico e o que escrevo podem dar a ideia de luxo e facilidade. Porque não é assim. Porque foi ainda mais difícil, tremendamente mais difícil do que agora é. Penso que cada resposta que dou a cada pergunta pode influenciar uma vida. Penso que o que escrevo por aqui e a forma como consigo fazer as coisas agora podem influenciar decisões. Penso que não tenho a culpa... mas terei culpa se não perceber que, ao virar costas à responsabilidade e ao manter o silêncio, posso mesmo vir a ter. De mim, o que vão ouvir, é a parte deste mundo que é feia, porca e má. E ainda vos asseguro que, depois disso, o que resta por contar é - existe - , mas é muito pouco. "
Como se diz/faz no Facebook... "Gostei"!
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Também já mora no blog porcalhoto.
ResponderEliminarE, pelos vistos, até "serenou" um tal de Santoninho...
ResponderEliminarMuito obrigada! Fico tocada com a vossa generosidade e atenção; ainda há seres humanos extraordinários. :)))
ResponderEliminarBeijos
Que há seres humanos extraordinários, há. Só não sei onde estão...
ResponderEliminarOra! Sois vós! :D :D :D
ResponderEliminarBeijos
A vós do dono?...
ResponderEliminarAvós do dono?...
Ena tantos netos!
ResponderEliminarNão se pode chamar o avô que vens logo...
ResponderEliminar...ainda!
ResponderEliminarAinda vou...mas logo não sei!
Logo ainda podes ser mais avô (pareceis Co(e)lhos, Car(v)alhos...)
ResponderEliminarPodes ter razão! Devem andar a treinar para gémeos (não, não! Não aceitam explicações!)
ResponderEliminarLogo lhas dava...
ResponderEliminarè um tema que sempre me inquietou!
ResponderEliminarSerá pelos riscos?
Será pelas dificuldades?
As dicas serão as correctas?
Em muitos casos,provavelmente a maioria,"os sonhos que cheiram a naftalina",fedem!
Felicito a autora,Miss Shag Well, pela coragem e a arte de nos tocar a alma, deixando um rasto de impotência na nossa vontade.
Vou ter oportunidade de escrever mais sobre este tema. Pode ser que consiga responder às suas questões. :)
ResponderEliminarMuito obrigada, D. Celeste Maria. :)))
Beijos
Vamos todos precisar de umas aulitas...
ResponderEliminarNão sei se consigo ser boa "professora" mas tento explicar o melhor que sei. :)))
ResponderEliminarBeijos
Aqui temos vários professores e todos te aprovam na avaliação ;O)
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